Cris Oliveira (1974) é formada em Biblioteconomia e Documentação pela USP e trabalha com gestão de coleções digitais e metadados na sede da OMS em Genebra. Participou em antologias da I Jornada de Poesia Virtual e do VI Festival de Poesia de Lisboa, tem textos publicados na Ruído Manifesto, selo Off Flip e no blogue da Bibliotrónica Portuguesa da Universidade de Lisboa. Escova de dentes (Paraquedas, 2023) é seu primeiro livro.
hipotenusa
vejo linhas sobrepostas
prontamente expostas-exibidas
parecem gélidas
mas virtuosas
muito precisas
querem me levar
eu consinto
minha retina faminta
me deixa-transladar
me transformo em dança de captar
instantes-estantes
quero ser-eu outra
um triângulo isósceles
cones oblíquos
cilindros acesos
observo
curva, tubos, curva
braços fixo-abertos
marquise
muros futuristas
um trapézio retângulo
(que tem um lado inesperado como a gente)
num lapso viro hipérbole
hipotenusa, elipse
experimento cores
enxergo
um reflexo
hexagonal
convexo-mistério
de mim atravessada
rastreando
forma como transporte
tira o eu
da poesia
resigna
tira o resíduo
breu
resina
tira o eu da rotina
retira a retina
retire la rétine
enlève le je
un élève
le jeu
genève
place de neuve
il neige
a neve é leve
let it snow
lettuce no
let us know
i retire the entire
eye
no more tears
more tea, yes
that will be nice
with a bit of rhyme
before i die
i say adieu adeus goodbye
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Mais sobre a obra
A poeta não é uma fingidora. O que ela fingiu por um tempo foi que não era poeta. Segurou, disfarçou, mas as palavras que ela tanto tinha começaram a sair, a ocupar espaço, a voar. Palavra presa quer sair; pessoa, então… “Minha coragem é minha liberdade”, ela escreveu e eu li.
Corajosa e livre, Cris Oliveira lança seu primeiro livro colocando nosso cotidiano em poesia e nos fazendo repensar cada palavra. Para ler e reler sem cansar e sempre descobrindo coisas novas.
— Roberta Martinelli
Fotografia: À beira do abismo – Arthur Wischral (Acervo Instituto Moreira Salles).